6.7.14

para k

leio e reviso o texto dela
que lê o texto de outra.
eso es hablar de la muerte?
a literatura foi perfurada
pelas mensagens que agora nos ligam
porque a morte vem de longe
e em outra língua
que sem ser estrangeira
é nossa.
leio e reviso o texto dela
traduzido por outra.
eso es hablar de la muerte?
enquanto isso ela me manda mensagens
para dizer que não dá mais
que é demais
que é horrível tudo
que acorda de madrugada e lembra 
dos versos de darío:
dichoso el arbol que es apenas sensitivo.
leio e reviso o texto dela
que traduz o luto de outra.
eso es hablar de la muerte?
deixo o verso assim
sem tradução
em itálicos.
a literatura foi perfurada.
ela chora, eu choro
na nossa língua.
choro na rua, no supermercado,
no estacionamento.
a mãe da minha mãe, a mãe dela,
a mãe da outra
as três cabem apertadas
no banco de trás do meu uno branco.
como fiz algum dia com minhas bonecas,
levo as três pra passear.
pelo retrovisor vejo que se divertem
quando o carro se põe em movimento.