10.2.13

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ela me diz que o espaço antes era uma morgue
e eu peço uma explicação, como se não entendesse.
“onde guardam os cadáveres”, ela diz,
e enquanto isso f. desenha com giz branco,
num quadro retangular ao lado de outras crianças,
pequenos pontos e um risco.
o espaço está cada vez mais cheio:
moças e rapazes praticam suas danças.
adultos e crianças visitam o labirinto.
há muitos velhos e um brechó.
do lado de fora vem o barulho da ambulância,
que socorre a moça deitada de bruços,
mas ela já esta calma, porque o marido disse
no seu ouvido umas palavras que funcionam:
on ne va pas partir”.
só falta acalmar o bebê no carrinho,
que se assustou quando a mãe caiu.
agora todas as crianças fazem pontos
e riscos, rindo loucamente.
acredito ouvi-la dizer que algumas coisas
acontecem apenas neste bairro.